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12 de agosto de 2024
Violência contra a mulher: a importância do Agosto Lilás
Agosto Lilás simboliza o mês de conscientização pelo fim da violência contra as mulheres, e tem como objetivo dar visibilidade ao tema e ampliar a divulgação sobre os direitos das mulheres em situação de violência, além dos serviços especializados para acolhimento, orientação e denúncia.
No Programa Conexão, conversamos com a psicóloga Caroline Corrêa sobre o assunto. "Em 2020 eu tive a oportunidade de finalizar meus estágios universitários na Coordenadoria da Mulher em Ijuí–RS, onde fui bem acolhida e pude ter um pouquinho dessa vivência da violência doméstica, mais ou menos como que é o percurso, como essas mulheres chegam até a Coordenadoria, porque é muito importante elas terem uma rede de apoio, ela vai denunciar, e depois? Então, é uma série de fatores que têm por trás, depois da denúncia", comenta.
No município vizinho, Cruz Alta–RS, existem espaços que acolhem situações desse tipo, como o Centro Maria Mulher, que é uma referência, "eu acredito que espaços assim precisam de maior visibilidade para as mulheres saberem que elas têm pessoas que olham sem julgamento e que estão ali para acolher neste momento de dor", explica Caroline.
Em 2022 foi sancionado que municípios deveriam fazer mobilizações para falar sobre o Agosto Lilás. "A União, os municípios e o Estado deveriam focar nisso, a partir da Lei Maria da Penha, que está completando 18 anos, se formos analisar, é nova a implantação dessa lei, e a partir de 2022, que começou o olhar de uma forma mais séria sobre esse assunto num sentido de que é importante que a sociedade em geral domine, para poder realizar campanhas de conscientização, prevenção, e a partir daí, tentar romper o ciclo da violência", complementa.
O psicólogo exerce um papel fundamental dentro desse tema, que é o acolhimento. "É preciso acolher essa mulher que está em um estado de vulnerabilidade, é um acolhimento sem julgamento possibilitando que ela possa encontrar formas de se reerguer dentro da situação que aconteceu, ou encontrar formas de sair daquele relacionamento, porque às vezes existe aquela questão que a mulher denuncia, recebe a medida protetiva e em algum momento ela retorna para dentro daquele relacionamento, essa mulher é muito criticada quando acontece isso, a sociedade julga que aquela mulher quer estar inserida dentro daquilo, mas quem quer viver no meio de violência?", aponta Caroline.
O ciclo da violência é amplo, conforme explica a psicóloga Caroline. "Em um relacionamento abusivo, por exemplo, é um círculo que começa com juras de amor, depois tem a fase da lua de mel, onde está tudo perfeito, após existe um momento de exaltação, exaltação de privar a mulher de algumas coisas que ela gosta, por exemplo, 'não vai usar essa roupa porque ela é muito curta', então, os ânimos vão começar a se exaltar, aquela lua de mel já vai romper, a partir desse rompimento, começam as questões de invalidar aquela mulher, 'ah, você não vai sair de casa, porque eu não quero sair de casa', depois, ocorre para uma movimentação de agressão, essa agressão pode ser física, no corpo, uma agressão psicológica, 'ah, você não é capaz de fazer isso', 'você não vai conseguir sem a minha presença', então, é realmente uma manipulação psicológica ali, pode acontecer também a violência sexual, é válido ressaltar que a violência sexual não acontece só em torno de um abuso, e sim, pode acontecer dentro de casa, em um momento que a mulher diz que ela não quer, e mesmo assim, o parceiro força uma relação, é um estado de violência sexual".
Além disso, existe também a violência patrimonial, onde a mulher não tem o domínio das finanças dela, dos patrimônios, fazendo com que ela seja dependente financeiramente do companheiro. "Ele não vai deixar ela ter essa autonomia financeira, e tem a violência moral, que diz respeito a uma série de xingamentos, por exemplo acaba o relacionamento, e uma pessoa fica falando mal da outra, até chegar então em um estado de tentativa de feminicídio, que é a última das escalas", completa Caroline.
De acordo com o Laboratório de Estudos de Feminicídios da LESFEM, 449 casos de feminicídio foram consumados e 545 não foram consumados (mas houve a tentativa) no Brasil em 2024.
"A mulher precisa ter suporte para sair desse relacionamento que é abusivo, pois muitas vezes sozinha ela não vai conseguir, e é aí que entra a figura do psicólogo para auxiliar, não só a figura do psicólogo, mas de uma rede de apoio necessária para que ela se fortaleça e retome a sua vida", aponta Caroline.
É fundamental não normalizar esse relacionamento, que priva, abusa e intoxica a outra pessoa. "Não é normal um ciúme possessivo, então é importante se atentar a esses gatilhos, procurar ajuda, não tenha medo de denunciar, os órgãos estão aí e o dever deles é acolher", completa Caroline.
Existe o Disque 100, que é a central dos Direitos Humanos e o Disque 180, que é a central de atendimento a mulher. Além das denúncias presenciais nas delegacias, também tem a possibilidade de fazer denuncias na delegacia online.
A Brigada Militar também conta com a Patrulha Maria da Penha, que atualmente está presente em 114 municípios do Rio Grande do Sul. "Procurem esses órgãos, busquem romper de alguma maneira isso que está causando sofrimento, que está causando perigo, porque a partir disso, nós rompemos com aquela estatística dos níveis de feminicídio que estão concretizados e os que não são", finaliza Caroline.
Por: Lucas Ribeiro | Jornalista do Portal Conecta